Submissão de novo resumo
Submissão de novo resumo
Associar proteção e participação das crianças é um dos desafios mais significativos identificados no campo inter/multidisciplinar dos estudos da criança. A Criança é com muita frequência uma vítima social de processos de dominação, abuso, violência ou abandono. No entanto, tratar as crianças como vítimas indefesas e passivas não é certamente a melhor forma de garantir que os seus direitos são respeitados.
A criança é um sujeito social e como tal tem o direito de intervir ativamente na definição do seu projeto de vida e na criação das condições de proteção face ao risco. Interpretar as políticas de proteção de crianças à luz da totalidade dos seus direitos, analisar o impacto de medidas de proteção, nomeadamente no âmbito das crianças em situação de acolhimento, das crianças refugiadas ou das crianças em situação de pobreza, apresentar e testar metodologias de intervenção e de avaliação de impacto dos processos de proteção constituem tópicos de relevância para comunicações a apresentar neste eixo.
Serão especialmente acolhidas as propostas de comunicação que identificam programas ou projetos que procuram fazer da proteção das crianças não uma medida emergencial ou remediativa em situações de perigo (ainda que isso seja relevante), mas como uma dimensão inerente à própria condição da criança cujo direito de viver fora da violência, da insegurança , do abandono e de tudo quanto afeta o seu bem-estar deve ser continuamente assegurada.
O segundo eixo pretende explorar o lugar da criança nos diferentes territórios que habita, e que ajuda a construir e transformar. Ao personificar os seus espaços, a criança estabelece uma relação intensa com as dimensões materiais, humanas, simbólicas e emocionais que os territórios lhe apresentam. Mas se diferentes espaços lhes proporcionam experiências positivas e significativas, constitutivas da sua condição, outros, pelo contrário, apresentam riscos e tensões que a ameaçam em diferentes dimensões. As influências e interseções entre o local, nacional, global condicionam estas vivências, pelo que vale a pena refletir sobre o papel das crianças nesses espaços. Habitando a maioria da Infância mundial em contexto urbano, o questionamento sobre as intervenções territorializadas, sobretudo aquelas que procuram diminuir essas tensões e promover a sua participação e reconhecimento no espaço público (seja em políticas públicas locais, nacionais ou globais), deverá acontecer. Assim, procura-se também discutir uma visão intersectorial destas políticas, que se situam em dimensões como o urbanismo, a saúde, a arte, a mobilidade, a educação, o lazer, a cultura, entre outras.
Em diferentes áreas dos estudos da criança, a cidade tem assumido um lugar central de análise na cidadania infantil, na promoção de processos participativos e na mobilização de diferentes metodologias que potenciam o modo como os espaços podem colocar as crianças em risco, reduzir a sua autonomia e mobilidade, e consequentemente limitar o seu direito à cidade. Este conhecimento tem sido cada vez interdisciplinar, e de construção de diálogos críticos entre diferentes áreas disciplinares até aqui pouco dialogantes, como a sociologia, o urbanismo, a arquitetura, a geografia, a arte e cultura. O espaço público, onde as crianças são cada vez mais ausentes, procura agora reorientar-se no sentido de promover a sua presença, participação, e reduzir os riscos a que estão sujeitos. Esta presença e participação pública das crianças é condição essencial para o seu reconhecimento enquanto cidadão pleno.
Serão acolhidas propostas que se enquadrem nas temáticas dos territórios, da infância urbana, dos níveis local, nacional e global, as perspetivas interdisciplinares de análise de políticas públicas e urbanas da infância, participação das crianças em políticas públicas, espaço público e risco, entre outras.
Este eixo pretende explorar diferentes marcas distintivas da infância contemporânea, entre as suas formas de materialidade e a sua dimensão simbólica. A presença da tecnologia e dos diferentes dispositivos nas vidas das crianças tem criado diferentes desafios ao quotidiano das crianças e suas famílias, nomeadamente na perceção do risco que a elas se associa, quer ao nível da segurança das crianças como de questões específicas de saúde e bem-estar. Mas também ao nível da educação, de modelos pedagógicos, etc, onde a componente tecnológica está cada vez mais presente. Ao mesmo tempo, as culturas lúdicas da infância vão-se alterando com a introdução de diferentes elementos materiais, sejam eles tecnológicos ou não, e reconfigurando os modos de ser criança, novamente com diferentes assunções ao nível local, nacional e global.
Alguns dispositivos, apps e programas informáticos, os brinquedos, os jogos, programas do Youtube, etc, são interlocutores quotidianos de muitas crianças, agindo com elas e sobre elas, como actantes não urbanos, continuamente mobilizados nas interações das crianças com o mundo. Esse mundo material – a que acrescem os materiais escolar, as roupas, o mobiliário urbano, etc. Integram a vida das crianças e essas interações são motivo de conhecimento em si mesmo. Em relação com a presença da dimensão material na vida das crianças, o domínio do simbólico e das representações imateriais faz também parte dela, sobretudo nas suas culturas lúdicas. Entre estes dois universos e as representações sociais sobre a infância, os contextos de vida das crianças influenciam largamente as experiências materiais e simbólicas a que poderão aceder e construir.
Assim, serão acolhidas propostas que explorem as tensões entre estas temáticas, nomeadamente as tecnologias e dispositivos tecnológicos na infância, culturas lúdicas e simbólicas da infância, representações sociais sobre a infância, cultura material e infância, a escola e a educação entre o material e o simbólico, entre outras.
As dimensões materiais, simbólicas, institucionais do poder afetam a categoria infância de modo específico, em particular nos contextos familiares e da relação com os adultos e institucionais. Os exercícios de poder sobre as crianças colocam-na em risco de usufruto e exercício de direitos fundamentais, quer no momento presente quer na construção de um futuro desejado. Os processos de diferenciação a que grupos concretos de crianças estão sujeitos, sejam pela cor da pele, da origem social e étnica, criam profundas desigualdades sobre as quais importa pensar. Do mesmo modo, o aumento a nível mundial das situações de pobreza infantil e de exclusão social afetam milhões de crianças no mundo e representam uma das mais graves violações dos seus direitos fundamentais. Importa, por isso, refletir sobre as condições de existência da infância, e a importância de construção de políticas públicas que se dirijam, objetivamente, à eliminação desses fatores de diferenciação.
Acolhem-se trabalhos que reflitam sobre as condições estruturais da infância, das estratégias e contextos de diferenciação, da pobreza infantil e da exclusão social.
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